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A lenda do pássaro que roubou o fogo

A lenda do pássaro que roubou o fogo – Salvador: Macunaíma, 1983.

Num esbanjamento de perdulários reuniram-se três jovens mestres, cada em ofício, em sua arte, para nos ofertar a beleza inteira deste livro: o compositor Carlos Pita, o pintor Calasans Neto, a poetisa Myriam Fraga. Ganhamos nós todos, admiradores de Pita, leitores de Myriam, devotos das monotipias e gravuras de Calá: “A lenda do pássaro/azul e cinza/e branco e solferino” para usar palavras do poema. Inspirados em antiga lenda indígena sobre a conquista do fogo; o novo livro de Myriam Fraga (e de seus dois ilustres companheiros de aventura editorial). Os poemas deste livro em verdade um único poema de exemplar beleza – irrompem como um raio de sol, poderosa força de vida e de amor à vida, plenos de denso mistério e de meridiana claridade para cantar a aventura do homem. Para vencer o “escuro vazio do sem nome”, Myriam Fraga em poemas de vitória, alguns com acentos de combate e glória, canta a luz, o parto do dia, o dia. Há neles um fulgor de manhãs e de infinito. Na batalha do homem para levar a vida avante e dar-lhe dimensão nova e maior, a poesia de Myriam Fraga encontra seu território próprio, sua paisagem exata, sua transparência, “águas de salitre e jasmim” alado destino de pássaro. Eis que reproduzo naturalmente palavras e versos do poema, um texto compacto de emocionada verdade: “o trágico destino de vencer e ser vencido”. Arauto de vida Myriam Fraga canta o “sagrado dever do homem”. “No ar, um penetrante aroma de Amarílis”, no peito a reinvenção da primavera: o fogo finalmente conquistando supera e vence “o bafo, o hálito da morte”.